Foi em uma segunda-feira.
Havia voltado mais cedo da escola e como não lembrara de descongelar nada para
o almoço, decidi dormir um pouco, e depois comer qualquer bobagem para enganar
o estômago. Acordei às duas da tarde morrendo de fome, e de desespero; Tinha de
fazer uma redação para sexta, e ainda não havia conseguido pensar em nada. Comi
um pacote de bolacha e me sentei. Passou-se uma hora, e a folha que segurava em
minhas mãos continuava em branco. Como boa neurótica que sou, comecei a duvidar
da minha capacidade com as palavras, imaginando que não conseguiria passar no
vestibular, ou – se conseguisse – não conseguiria lidar com o curso, e então a
minha imaginação rolou, projetando acontecimentos que ficavam cada vez piores.
Liguei pra minha mãe, contei sobre meus pensamentos, implorei pra que ela fosse
me buscar e comecei a chorar feito uma criança boba.
Enquanto falava com
ela, decidi arrumar meu guarda-roupa. Quem sabe ao conseguir manter algo arrumado,
eu teria alguma idéia pro texto ou me acalmaria... Foi então que, em um segundo
de descuido, eu derrubei meu espelho no chão, quebrando-o em vários pedacinhos.
“Pronto. Agora vou ter sete anos de azar!” – pensei, aumentando meu desespero.
As lágrimas, que já haviam parado há algum tempo, voltaram, e o choro saiu mais
forte e mal alto. Minha mãe – que já é POUCO preocupada - devia estar tendo um
ataque do outro lado da linha. Queria ir pra Bauru na hora, e ficar comigo o
resto da semana.
Desliguei o telefone, limpei a bagunça do meu quarto
e sentei na cama. Já estava um pouco mais calma, mas a culpa (minha redação já
devia estar pronta... E eu nem havia começado!) ainda me assombrava. Cinco
minutos depois, meu celular começou a vibrar. Era uma mensagem do sisu,
avisando que eu havia sido selecionada na primeira chamada em uma das faculdades
que eu havia me inscrito. PASSEI. Comecei a gritar, enquanto tremia. Tá certo
que foi em letras (e eu quero cinema...), mas eu passei, poxa! Liguei pra minha
mãe, mandei mensagem pras minhas amigas e comecei a pular (essa é a hora em que
meu vizinho de baixo começa a me odiar pelo barulho, hehe) de alegria. Fiquei
boba. COMO ERA POSSÍVEL? Eu tinha acabado de quebrar um espelho, e agora estava
com sorte? Confesso que na hora pensei seriamente em quebrar os outros espelhos
que existiam no meu apartamento, mas não fiz nada (também só faltava essa...)!
Depois disso a semana continuou estranha, mas
fluindo... Consegui fazer minha redação, arrumar o que tinha de ser arrumado,
recebi notícias boas e ruins, e ainda tive que lidar com certas situações nem
um pouco agradáveis... O pior de tudo
foi que toda vez que algo incomum e ruim acontecia, eu começava a tremer,
pensando no maldito espelho!
Quanta besteira, meu Deus!
Só hoje que eu fui perceber o quão longe da realidade – e da sanidade também, convenhamos
– o desespero me leva... Como se eu não soubesse que superstições não existem!
Comecei a rir da minha
própria idiotice e não consegui parar mais. É muito drama, exagero e desespero,
pra coisas pequenas demais. Um espelho quebrado é só um espelho quebrado. Não
existe maldição!
No momento, penso da
seguinte maneira: Não existe sorte ou azar. O que existe são as conseqüências de
nosso estado emocional!
Talvez eu esteja errada,
mas isso eu só vou ficar sabendo daqui a sete anos, quando a “maldição” acabar.