segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Sobre pequenos grandes passos.

Esse final de semana criei coragem e risquei um desejo antigo da minha lista; saí do loiro e pintei os cabelos de castanho acobreado. Já fazia tempo que queria fazer algo do gênero, mas morria de medo de ficar um lixo e me arrepender depois. Aliás, sempre tive um pavor enorme de arrependimento. 
Outro receio que também costumo ter é com a opinião alheia. É como se eu me escondesse o tempo todo, e fizesse sempre o possível pra tentar agradar todo mundo ao meu redor. Após muito disso o tempo todo, também acabei notando a coisa mais óbvia do universo; é impossível conquistar a todos. E o excesso de tentativa só me deixou mais frustrada, triste e solitária. Cheguei a um ponto em que a paranoia era tão grande que eu preferia recusar convites, me afastar das pessoas e não deixar que ninguém se aproximasse. Sentia que minha presença incomodava a todos, e até a minha sombra me incomodava. Eu não queria só ficar sozinha, eu queria me afastar de mim (como se isso fosse possível...).
Antigamente eu fazia terapia, e falar sobre todos aqueles dramas tornava-os menores. Mas meu, fala sério, eu tenho vinte anos de idade, faço faculdade fora da minha cidade e após um tempo administrando tudo sozinha, decidi que já não quero depender de ninguém. Nem da minha psicóloga. Se sou em quem arruma a bagunça que faço aqui fora, que aprenda a organizar o que se passa aqui dentro também!
Me deixei. Gastei cada segundo melancólico dos meus dias escrevendo sobre aquilo. Guardei aquela frases, e depois reli todas cuidadosamente. E então comecei a observar a vida daqueles que conhecia. Seus erros, seus acertos, suas tentativas. Percebi o quanto todo o drama que faço é bobo. Que o acúmulo de erros é só um detalhe em comum entre todas as pessoas. Que se eu continuasse inibindo todas as minhas vontades seria sempre uma marionete. Eu me tornaria exatamente aquilo que as pessoas esperam que eu seja, e me afastaria completamente do que quero ser. 
Decidi começar do zero. Devagar. Sem pressa. Mudo um detalhe aqui, e outro ali. Valorizo um pouco mais as minhas ideias. E opto por aquilo que me agrada, mesmo que "meus expectadores" façam bico. Pois quando se trata da vida alheia é só o que somos; meros expectadores. Lembro-me que ninguém sabe o que se passa por dentro do outro, e muito menos se importa. Então é isso. Esse fim de semana mudei a cor do cabelo(e gostei do resultado, apesar de ter detestado minha franja, que resolvi cortar também), e ouvi mais elogios que esperava, mas também escutei algumas reclamações do tipo; você está estragando o seu cabelo, eu queria ter a cor do seu cabelo, prefiro você loira. Mas tudo bem, pois as luzes o estragavam muito mais, eu sempre odiei a cor natural do meu cabelo, e gosto dele escuro. Tudo pronto, tudo lindo. 
Bom, pra terminar, espero que a gente possa tomar as nossas próprias decisões, e acertando ou errando, que consigamos lidar com as consequências delas sozinhos, e que respeitemos também a individualidade alheia.

domingo, 7 de setembro de 2014

Bukowski: Born into this.


Realista, intenso e poético; é assim que eu defino o documentário Bukowski: Born into this. O filme, de quase 120 minutos, conta a história do escritor Charles Bukowski, conhecido por sua escrita forte e desinibida. Confesso que não sou uma especialista sobre o autor, só li dois de seus livros, por enquanto; Hollywood, e Ao sul de lugar nenhum. Mas o que mais me chamou atenção em ambos é a brutalidade de suas palavras, muitas vezes pessimistas, mas firmes e reais. Suas principais temáticas são as mulheres, o sexo, o excesso de álcool, além de apostas em corridas de cavalo, paixões do autor, que coloca muito de si em seus livros. Outra característica do autor é o uso de palavrões o tempo todo, e a sinceridade. O homem realmente não tinha papas na língua (característica em especial da qual gosto muito).
Mas voltando ao documentário, sinto que foi feito para os admiradores do autor, contando sua história na ordem de seus escritos. O filme começa mostrando o velho Bukowski, já mais velho e conhecido, declamando um de seus textos pra uma plateia, e essa cena se reveza com depoimentos de conhecidos e íntimos do autor sobre o mesmo. Entre esses depoimentos, passam-se cenas de entrevistas a Bukowski, nas quais ele conta, muitas vezes, a mesma história que seus conhecidos estão contando, a sua maneira. E o contraste entre as narrações se encaixam de maneira delicada e bem feita no decorrer do filme todo, que termina com a morte do autor.
Como já disse, o documentário não se passa na ordem cronológica; nascimento, infância, adolescência, vida adulta e morte, mas sim na ordem de seus escritos; o começo desconhecido do autor, que vivia pelas palavras, apesar de ter de conciliar sua paixão com empregos que odiava pra se sustentar, seus primeiros textos publicados, a fama, enfim, sua evolução literária. Sua infância só é narrada com mais detalhes no momento em que o autor já é bem mais velho e conhecido, quando ele finalmente se permite escrever sobre essa fase de sua vida que lhe trazia sempre tanto sofrimento.
O documentário também faz questão de dar ênfase no lado sensível e humano de Bukowski. Um lado que o autor evita mostrar em seus escritos e em seu cotidiano, mas que está lá, corroendo-o. Os relatos mais interessantes são os feitos pelo próprio Bukowski, em algumas entrevistas, quando ele assume que muitas vezes se comporta como um idiota, mas se sente mal por isso. Essa exposição torna o filme ainda mais poético e me fez simpatizar mais com o autor.
O filme também trás depoimentos de fãs do autor que não chegaram a ter contato íntimo com ele, como Bono, vocalista da banda U2. A admiração do cantor pelo autor é bonita de se ver e ouvir.

Enfim, apesar de meio antigo (o filme é de 2003), é um documentário bem feito, que trás muita realidade e poesia, com depoimentos emocionantes. Há arte no fundo da alma do Velho safado. Uma arte diferente, suja, rude, mas que transborda de dentro dele, e foi isso o que me fez amar tanto o filme. Meu conselho? Assistam.