terça-feira, 6 de setembro de 2016

O Absurdo Relato de Corpos Exaustos.

Mariana acorda às seis pra ir pra aula às sete e estuda até às dezoito. Em seguida corre pra casa, toma um banho rápido e às vezes não dá nem pra jantar: precisa ir pro trabalho, que é onde ela fica até às onze. Volta pra casa um caco e antes de se jogar na cama, ainda precisa tirar forças pra encher o estômago vazio e tomar um segundo banho. Completo o ritual, se deita, por volta da uma e meia da manhã, e adormece.
Julio também acorda cedo. Oito da manhã. Da faculdade, pro estágio, e de lá pra reuniões de trabalhos independentes. Chega em casa por volta da meia noite. Diferente de Mariana, ele nem come, dorme sem pensar. O garoto, de dezenove anos, ainda é sustentado pelos pais. Apesar do trabalho contínuo, ainda está naquela fase de ganhar em experiência. Pra depois, se tudo der certo, aí sim, conseguir ganhar algum dinheiro.
Pra ajudar nas contas de casa, Mariana vende cosméticos nas poucas horas vagas. Julio conserta objetos quebrados pra ganhar alguns trocados. 
O dinheiro é pouco, mas é suficiente pra uma festinha ou outra no fim de semana. Uma roupinha nova vez por outra. Sabe como é...
"Sei?" Indaga Geraldo, nos seus trinta e poucos anos e olhar desconfiado. Indaga que com a idade dos garotos já era assalariado, trabalhava dia e noite, e quase não tinha tempo pra dormir, pois a junção da faculdade não deixava. Geraldo exibe o sono perdido, os fins de semana trancado numa sala fechada em frente a um computador, e a falta de tempo pra pensar em namoradas ou ao menos ver um filme no cinema. É seu troféu. Pagou as próprias contas com seu próprio suor e sangue, enquanto os estudantes se dão ao luxo de conseguir dormir de quatro a cinco horas por noite e -veja que absurdo! - juntar alguns trocados pra se divertir! E enquanto isso, seus pais são escravizados em trabalhos cansativos e extremamente mal remunerados pra sustentar os filhos, sem ter um centavo a mais pra gastar. Um segundo a mais pra viver pra si.
E eles, eles sim são os corretos. Assim como Geraldo, abriram mão da própria vida pelo bem de sua integridade. Da boa fama, da admiração dos invejosos, que trabalham tantas horas quanto eles e conseguem ganhar ainda menos. Dos aplausos de seus contratadores, que aprovam o esforço, apesar de quase nunca oferecerem algum reconhecimento.
Mariana vive cansada, pois não tem mais tempo pra nada, mas não pode reclamar, afinal, ela faz tão pouco. Ela tem comida na mesa, ajuda os pais a pagar as contas, e ainda se dá o privilégio de gastar o pouco dinheiro que lhe resta com futilidades. Absurdo! Julio passa o dia todo tentando omitir a inferioridade que sente por ser sustentado pelos pais, que trabalham feito burros de carga, enquanto ele se dá ao luxo de não fazer nada além de estudar, estagiar, realizar trabalhos por fora da faculdade, sem receber nenhum tostão por isso e ainda se permitir gastar o pouco que arrecada com seu pequeno ofício de consertar coisas tomado uma cerveja no fim de semana. Absurdo!
Bem que Geraldo disse! Os jovens de hoje folgam de mais , fazem de menos, e ainda querem o direito de poder viver um pouco! É absurdo! 
Antigamente o dinheiro tinha mais valor que o ser humano!

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