E lá veio o Dinho, como sempre me traduzindo em seu
repertório.
Acho que toda a garota já ouviu, cantou, e amou
Natasha, e que pelo menos uma vez, pensou em fazer o mesmo que Ana Paula.
Mudar o corte e a cor do cabelo, sacar todas as
economias, e fugir, sem saber pra onde, mas com a certeza de não há como voltar
atrás.
Como paranoica, desequilibrada, e pseudopoeta,
sempre penso que nenhuma música foi escrita em vão, e hoje enquanto ouvia essa,
da qual nunca enjoo, me perguntei sobre Ana Paula. Não sei quem é, mas aposto
que ela existiu, e que existiram muitas como ela.
Imagino-a como uma garota calma, recatada, tímida
e com educação impecável. O exemplo de filha, namorada e aluna perfeita.
Vivendo uma vida ideal, com o futuro todo planejado. Faculdade, casamento,
filhos. É, ela tinha tudo em sua mão.
Me pergunto, então, o que a levou a partir daquele jeito, sem se incomodar em
dizer adeus, e sem nenhuma pretensão de voltar... Após um breve momento de
meditação, rio de meu questionamento. Sei que toda a garota já brincou de
casinha, já sonhou com o príncipe encantado, e escolheu um zilhão de nomes
diferentes para seu primeiro filho. Se formar, se casar, ter filhos. Esse é o
sonho perfeito que todas deveríamos ter. Ou uma antiga imposição que era feita
a nossas avós, por seus familiares, e de quando em quando, ainda é passada pra
nós. Mas...
Ana Paula não passava dificuldades, não causava
problemas, e sabia exatamente onde iria chegar. Faculdade, casamento, filhos.
Sua vida estava toda programada, e acredito que esse tenha sido o gatilho de
sua fuga. Todo aquele excesso de certezas, toda aquela vida planejada, aquilo
deve tê-la sufocado. Não me levem a mal! Não tenho nada contra quem sonha em
constituir uma família e levar uma vida tranquila, muito pelo contrário, eu mesma
também tenho esse desejo. Mas acredito que o excesso de planejamento não nos
leve a lugar nenhum, pois o excesso de idealização nos tira da realidade, e nos
joga em um abismo de paranoias, que desacata insônia, pesadelos, enfim. Ok, eu
posso estar exagerando. Ok, esse pode não ser o seu caso, eu sei. Mas acho que
Ana Paula vivenciou as cenas que venho descrevendo e que isso a apavorou. Afinal,
é normal ter medo do futuro. Tenho certeza de que ela amava seus pais, talvez
gostasse de seu namorado, mas por ficar tanto tempo presa naquela vidinha
perfeita e tão cheia de certezas, ela se desesperou. Amava tudo o que tinha,
mas queria mais. Queria conhecer o outro lado da moeda, sentir o gosto daquilo
que ainda não havia provado. Queria viver um pouco, antes de se acomodar. E
então radicalizou, enterrando de vez Ana Paula, junto com todos os sonhos que
tinha e “dando a luz” a Natasha, a inconsequente desandada que só queria mais
um trago, mais um drink e mais uma música...
O mundo vai
acabar, e ela só quer dançar... Era
isso, já não se importava mais. Viveria um dia de cada vez, sem pensar em seu
futuro. Tornou-se o extremo daquilo que ainda não vivera.
Me desculpo pela confusão aos que não entenderam o
ponto em que quero chegar, e explico; Não há nada de errado em descer do salto
de vez em quando. Todos precisamos de tranquilizantes pra mente e um pouco de
indiferença. Mas é possível incorporar nossa Natasha sem estrangular de vez Ana
Paula. Adquirindo responsabilidade(e irresponsabilidade) na hora certa. Pra os
que me acompanharam até aqui, deixo minha conclusão; se dosem. Sejam um pouco
de tudo. Mas não sejam demais. A vida é uma corda bamba, e se a gente não se
equilibrar, cai.
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