sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Ao fundo do poço não, meu bem!



De repente resolveu parar. E então não se ouviram mais choros, berros ou esperneios. Não havia nada além do silêncio da noite e uma imagem caída, meio torta, de alguém que costumava ser uma mistura de energia, barulho e vida, mas que - a partir dos dois últimos segundos - não passava de nada. Um eco, um oco, um aglomerado de células? Ou devíamos chamá-la de gente? 
Continuou sentada um tempo, olhando para o horizonte. Tremia muito, pois seus pés balançavam, sem muito medo ou equilíbrio, pelo ar. Bastava um pequeno impulso e um soltar de mãos para que ela caísse no vazio interminável daquele poço no qual - assim que chegasse ao fim - se afogaria.
Estava assustada, confesso. Um pouco, mas estava. Não queria estar ali, te garanto. Subiu por impulso, por brincadeira... Mas acabou ficando presa, pois não tinha coragem de tentar se mover para sair.
Então, ao máximo de seu desespero, começaram-se os gritos - ou seriam apelos por socorro? - seguidos pelas lágrimas e os esperneios. E estes duraram horas, que passavam como dias longos... Principalmente por não trazerem resultados. 
Estava tão distante, que ninguém a escutava. Ou talvez escutassem, mas não queriam se dar ao trabalho de averiguar os acontecimentos.
Achavam que era birra, escândalo... Nada importante. Nada que valesse a pena. Pra eles, ela não valia a pena.
Então desistiu. Já que a ajuda não vinha nunca, decidiu que não queria ser ajudada. E essa foi a maior birra que conseguiu fazer.
Pensava, seriamente, em se jogar. Afinal, se nem seus gritos e seu choro trouxeram alguém pra perto de si, pra quê continua ali? Talvez morta fosse mais útil, pois serviria de alimento pra algumas bactérias, ao menos.
E enquanto pensava, o tempo passava, mas ela não percebia.
E como não havia mais barulho, as pessoas começaram se inquietar.
O que deu fim ao escândalo? Porque ela parou? Então saíram todos a procurá-la.
Pois a falta de sua voz os preocupava. Estaria ela bem, afinal? Todos queriam saber, pois sentiam medo de tê-la perdido.
E foi ali que a encontraram. Sentada em cima do poço, cambaleando. Seus olhos estavam fechados, e ela já havia tirado uma das mãos que a segurava.
E logo a outra também a soltaria. 
Um, dois, três....
Ao abrir os olhos novamente, estava sendo levada de volta ao seu mundo, nos braços de um daqueles que a ouvia gritar, mas não a respondia. Sã e salva.
Inquieta, perguntou-lhe o que estava acontecendo, e como a acharam...
"Nós, que sempre ouvíamos seu choro, seus gritos e escândalos, ficamos preocupados ao percebermos o quão quieta vocês estava... Então saímos para te procurar!" - Ele respondeu.
Então ela finalmente aprendeu aquilo que a todos nós deveria ser ensinado;
Se quiser a atenção daqueles que estão ao teu redor, não diga nada. Cale-se. Suma por um tempo. Só assim as pessoas vão sentir sua falta.
FIM (=

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